
Comandante checheno procurado pela Ucrânia por crimes de guerra está na Turquia a liderar ajuda russa
Um comandante checheno procurado pela Ucrânia por alegados crimes de guerra cometidos nos primeiros meses da invasão está a liderar a ajuda russa na Turquia após o sismo.
Daniil Martynov esteve em vários locais da Ucrânia, concretamente nas primeiras semanas da guerra. É considerado próximo do líder checheno Ramzan Kadyrov e apareceu, inclusive, em vários vídeos publicados por Kadyrov no seu canal de Telegram.
Nos últimos dias, deu entrevistas a meios de comunicação russos desde a Turquia, depois de ter sido nomeado conselheiro para o Ministério dos Serviços de Emergência da Rússia.
As autoridades têm corrido contra o tempo para libertar os sobreviventes dos destroços após o terramoto de magnitude 7,8, na segunda-feira, que já causou milhares de mortos e o colapso de milhares de edifícios na Turquia e na Síria. Dezenas de países enviaram ajuda para ajudar nas operações de socorro.
Em agosto último, os serviços de segurança ucranianos (SBU) alegaram que Martynov tinha cometido uma série de crimes de guerra na cidade de Borodyanka, a norte de Kiev.
Descreveu Martynov como o chefe-adjunto das tropas da Guarda Nacional da República da Chechénia e disse que era “responsável pelo treino do destacamento de segurança pessoal de Kadyrov”.
O SBU alegou ainda que Martinov liderou a ocupação do hospital psiquiátrico de Borodyanka em março. Disse que, por ordem sua, “quase 500 pessoas foram feitas reféns (entre pacientes, funcionários e moradores), incluindo mais de uma centena de pacientes acamados”.
Alegou igualmente que o hospital tinha sido “transformado numa posição de tiro dos ocupantes” e que Martynov foi acusado de “violação das leis e costumes da guerra, e abuso de prisioneiros de guerra ou civis”.
A CNN informou sobre a ocupação do hospital em março passado.
A diretora do hospital psiquiátrico, Maryna Hanitska, contou ao site russo independente Meduza, no ano passado, que os russos tinham “colocado minas” à volta da unidade hospitalar. “E assistimos à escavação de trincheiras” na primeira semana de março.
“Um soldado pôs-se à minha frente e apresentou-se. Ele disse que era Daniil Martynov, um coronel do exército russo. Ele disse que se nos comportássemos, então viveríamos – não nos matariam e não nos fariam mal”, afirmou Hanitska ao jornal online.
Hanitska disse também que Martynov lhe disse para agradecer publicamente a presença das tropas invasoras naquele local: “Agora vamos gravar um pequeno vídeo, vai agradecer-nos e será livre, estará sob a proteção do presidente russo Vladimir Putin.”
“Perguntei: ‘porque é que tenho de estar agradecida? Ele inclinou-se perto da minha cara, olhou-me nos olhos, e disse: ‘Pelo facto de estar viva’.”
A CNN não pode confirmar independentemente que foi Martynov quem falou com a diretora do hospital.
Não há qualquer registo de Martynov a responder às acusações da Ucrânia. Mas em agosto passado, Kadyrov refutou as alegações, sublinhando: “Em relação a Martynov, ele não trabalha para nós. Está a trabalhar com o Ministério dos Serviços de Emergência russo.”
Numa gravação de voz, Kadyrov desafiou mesmo os serviços de segurança ucranianos: “Ok, SBU, digam-nos apenas a hora e o lugar e nós iremos descobrir quem são os verdadeiros criminosos.”
Martynov foi sancionado em 2020 pelo Departamento do Tesouro norte-americano por “graves violações dos direitos humanos na Rússia”. Disse que era “um conselheiro de segurança pessoal para Kadyrov, [e] agiu ou supostamente agiu em nome, direta ou indiretamente, de Kadyrov”.
Vários vídeos colocados no canal oficial de Telegram de Kadyrov no ano passado mostram Martynov em várias partes ocupadas da Ucrânia.
Num deles, é descrito como membro das forças especiais chechenas na Ucrânia.
Entre os locais onde foi visto estava a cidade de Popasna, na região do Lugansk, que foi arrasada por bombardeamentos russos.
É também visto na cidade de Lugansk e a visitar soldados feridos num local não revelado.
A CNN está a contactar o Ministério dos Serviços de Emergência da Rússia para comentar o papel de Martinov no ministério, bem como os serviços de segurança da Ucrânia.