
“Morreu de algo evitável após oito dias de sofrimento”: menina de 12 anos morre de peritonite em Valência depois de três idas ao hospital
Emma Martínez Gascón, de 12 anos, morreu esta segunda-feira de peritonite, no Hospital Clínico de Valência, Espanha, depois de três idas às urgências de Viver e ao hospital de Sagunto, onde não lhe foi diagnosticada qualquer anomalia. Os médicos chegaram a dizer à família que poderiam tratar-se de sintomas associados à primeira menstruação ou até de um vírus.
“A Emma jogava futebol, era divertida, carinhosa, cheia de vida, tal como os dois irmãos [de 17 e 22 anos] e todos a conheciam.” É assim que os pais de Emma Gascón recordam a filha, de quem se despediram na segunda-feira, depois de uma semana de aflição e correrias entre hospitais para ajudar a menina.
A criança queixava-se de fortes dores abdominais, acompanhadas de episódios de febre e vómitos, que já se prolongavam há uma semana. No dia 29 de janeiro, um domingo, a mãe decidiu levá-la ao Centro de Urgências localizado em Viver, onde o médico de serviço não detetou nada de grave.
“A minha esposa perguntou-lhe se poderia ser apendicite, já que temos um histórico de apendicites na família. O médico respondeu-lhe que não achava que fosse isso, mas que poderia ser a sua primeira menstruação ou um vírus do estômago”, conta o pai da menina, em declarações ao jornal El País.
De regresso a casa, o estado de Emma foi piorando. As dores abdominais eram de tal forma fortes que não conseguia dormir, disse Pedro Gascón. Na quinta-feira, dia 2 de fevereiro, a mãe resolve dirigir-se novamente ao Centro de Urgências de Viver com Emma, onde foram atendidas por um outro médico de serviço, que, de acordo com os pais, repetiu o mesmo diagnóstico do médico anterior.
“Quando eu regressei a casa na sexta-feira [de uma viagem de trabalho] e olhei para a cara da minha filha… ela nem conseguia estar de pé. No dia seguinte de manhã, pelas 11:30, levei-a ao hospital”, continua o pai, referindo-se ao hospital da região, localizado em Sagunto.
“Ficámos lá até às 17:00 da tarde. Eles fizeram-lhe análises à urina e auscultação abdominal, observaram-lhe a língua branca e pouco mais. Devem ter visto que os resultados das análises à urina estavam normais e mandaram-nos para casa,” acrescenta.
No domingo, 5 de fevereiro, Emma perdeu a consciência e desmaiou. “Fomos para o Centro de Emergência de Viver porque era o que tínhamos mais perto. Ela entrou em paragem cardiorrespiratória, eles usaram um desfibrilhador. Chamaram uma ambulância, que chegou em 12 minutos. Conseguiram estabilizá-la e transportaram-na para o Hospital Clínico de Valência, onde toda a equipa médica pediátrica já estava à espera dela para a operarem”, recorda o pai.
“Depois, voltou a entrar em paragem cardiorrespiratória. Eles ainda tentaram reanimá-la durante cerca de duas horas. Acabou por morrer às 02:00 da manhã.”
Os médicos disseram aos pais que a causa de morte de Emma foi “peritonite purulenta”, uma infeção na membrana que envolve o intestino (peritoneu), que acabou por provocar uma infeção generalizada.
“Como é que depois de três visitas ao médico com a menina naquele estado eles não foram capazes de lhe fazer uma ecografia ou uma análise ao sangue?”, questiona o pai, que acredita que Emma “morreu de algo evitável depois de oito dias de sofrimento”.
Agora, a família pretende apresentar queixa contra a administração dos hospitais por negligência médica. Citadas pelo El País, fontes da Secretaria Municipal de Saúde de Valência lamentaram “profundamente o sucedido” e garantiram à família que “tudo o que se passou será analisado”.