SC Braga-SL Benfica: arbitragem deixou clubes, adeptos e imprensa à beira de um ataque de nervos

SC Braga-SL Benfica: arbitragem deixou clubes, adeptos e imprensa à beira de um ataque de nervos

  11 Feb 2023

O SC Braga/SL Benfica, dos quartos de final da Taça de Portugal, teve uma arbitragem globalmente infeliz. Este é um facto indesmentível, comprovado pelas imagens televisivas. Duarte Gomes explica o que entende ser o rolo compressor.

Os erros mais significativos – pontapé de penálti por assinalar por falta de Tormena sobre Gonçalo Guedes e o primeiro amarelo a Morato, mais tarde expulso por acumulação de cartões – deixaram “clubes”, adeptos e imprensa à beira de um ataque de nervos.

E essas reações, esses danos colaterais, levam-nos para outro facto, igualmente indesmentível: o de que o futebol profissional em Portugal tende a resumir-se apenas a isso. À análise obsessiva de lances mal analisados.

É a visão pela negativa. Pelo lado “não”. A do copo meio vazio.

Se estiverem atentos, verão que é assim que começam todos os programas desportivos em cada pós-jogo. É só isso que se discute nas redes sociais. E é apenas disso que se fala e escreve nas rádios e jornais: o penálti que não era, a expulsão que devia ser, o amarelo que seria, o fora de jogo que não foi.

Com mais ou menos razão, com mais ou menos coração, tudo se resume a isso.

Dizem que, tal como o sexo e a violência, esse é o produto que mais vende e será esse o motivo que “impõe” a propagação maciça de polémica e histeria em torno das arbitragens.

Mas enquanto esse folclore desfila com pompa e circunstância a nível nacional, enquanto o foco recai nessa variável do jogo (entre tantas outras), a indústria do futebol perde valor.

Fica beliscada na imagem que pretende potenciar para se valorizar. Afunila-se numa visão negativa, cáustica e pesada.

E porque todos se preocupam apenas em contabilizar os erros de árbitro e VAR, ninguém fala das bancadas despidas ou dos lances mais bonitos. Ninguém fala das táticas bem desenhadas ou dos rasgos de genialidade deste ou daquele jogador. Ninguém fala da atitude irrefletida do atleta que podia lesionar gravemente o colega de profissão ou da imprudência do defesa que derrubou o adversário dentro da sua área. Para quê falar do essencial, se é o acessório que vende e sacia a alma de cada um?

Esta nossa forma de estar no futebol (no desporto, em geral) não é virgem. Não começou em Braga. Não é de ontem nem de anteontem. E não será diferente amanhã ou depois.

É a tal característica social, baseada numa cultura de coração cheio e cabeça vazia, que serve a todos e que permite que o excesso de emoção se confunda perigosamente com irracionalidade.

Pior, muito pior do que essa visão momentânea é a gritante incapacidade de olharmos para o problema em si, pensando na melhor forma de o resolver.

A questão da incompetência técnica de alguns árbitros (e vídeo árbitros) passa por repensar muita coisa em relação à forma como tudo está estruturado atualmente:

– Quem são os mais qualificados?

Como se pode qualificar os mais novos?

Quem tem e quem não tem vocação técnica para estar em campo ou em sala?

Como preparar o futuro a curto, médio prazo?

Como credibilizar a classe?

Como tornar todos os seus processos mais claros e transparentes?

Como a proteger de ondas de choque exteriores?

Como defender quem é chacinado semanalmente na opinião pública?

O que deve ser pensado para que existam menos erros “indesculpáveis”, face à mais-valia que a tecnologia hoje oferece e representa?

Como dar esse passo em frente?

Mil e uma reflexões, mil e uma ideias, muitos desafios.

Os árbitros jamais se livrarão de críticas, insultos e ameaças. Isso é certo e garantido. Mas isso não invalida que a classe não faça mais e melhor, assumindo papel ativo no sentido de qualificar mais para errar menos.

Demora, implica visão, paciência e muito trabalho, mas dá-se.

Enquanto não se der esse passo, estaremos apenas a atirar milho para o chão, à espera que as galinhas venham a correr.

O ex-árbitro internacional Duarte Gomes é comentador da SIC e tem um espaço de opinião no site da SIC Notícias.

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